sábado, 11 de junho de 2011

Do caminho percorrido ao que ainda temos que percorrer...

No tempo em que na Medicina havia poucos recursos para o diagnóstico e tratamento, a presença do médico ao lado do paciente, observando- o minuciosamente, acompanhando sua evolução, ampliando seu conhecimento acerca da sua vida e hábitos, eram atitudes necessárias para o próprio exercício da profissão11. Essa atitude, mais próxima ao que hoje se postula para a humanização das práticas, não era algo da ordem do amor ao próximo, como, ingenuamente, uma certa visão romântica tende a insinuar. Vários relatos da história da Medicina mostram o grande interesse científico dos médicos na busca de soluções para os males do corpo, alguns levados pelo altruísmo, outros pela vaidade26. Durante muito tempo, a proximidade com o paciente era quase um imperativo técnico para o exercício da boa Medicina11.

As mudanças sociais e culturais que atravessaram os tempos desde essa época transformaram a face da Medicina e das práticas de saúde, chegando

ao contexto que discutimos neste artigo e suas implicações no surgimento da humanização na Saúde. Começando por ações isoladas, pontuais, amadoras, a humanização foi desenvolvendo conceitos e tecnologias para sua aplicação tanto no campo das relações profissionais-pacientes, quanto no campo da gestão, chegando à forma de política pública na Saúde.

Entretanto, a falta de compreensão mais profunda da dimensão psicossocial que envolve os processos saúde-doença, a falta de compromisso com o resultado do trabalho, a falta de decisões compartilhadas com pacientes, de projetos assistenciais discutidos em equipe multidisciplinar, e mesmo de gestão participativa nos serviços de Saúde, tornam a humanização do cuidado um projeto ideal ainda bem distante da realidade dos serviços de Saúde.

Trabalhamos durante vários anos junto aos hospitais públicos da Secretaria de Estado da Saúde coordenando a Área de Humanização e pudemos observar que além desses problemas estruturais referentes principalmente à gestão dos serviços, há um outro lado do problema que, menos evidente e mais entranhado na cultura dos serviços, também dificulta muito as mudanças de comportamento que a humanização advoga. Trata-se do que cada profissional espera da sua profissão. Para muitos, o trabalho é o dever a ser cumprido para dar direito ao salário. Para outros é também caminho para a satisfação pessoal, a superação de desafios, o prazer de ser alguém que faz diferença na vida dos outros, e na própria vida.

De acordo com nossa experiência e ponto de vista, a humanização só terá assegurado seu lugar na relação do profissional com o paciente quando se mostrar indispensável para os bons resultados que o profissional deseja de si mesmo no seu trabalho27. Para isso, há que se provocar (se é que isso é possível) uma descoberta fundamental na vida dos profissionais de Saúde: a recuperação do desejo e do prazer de cuidar, algo que, de tão distante dos valores culturais que predominam na contemporaneidade, parece irremediavelmente perdido, mas quem sabe...

Aí então, a necessidade de bem cuidar será sentida como uma disposição

que pode mover o desejo de aprender um outro jeito de ser e fazer o encontro clínico no campo intersubjetivo e, mais além deste, realizar a humanização em toda sua amplitude.

Rios, Izabel Cristina Caminhos da humanização na saúde : prática e

reflexão / Izabel Cristina Rios. -- São Paulo : Áurea Editora, 2009.

http://www.hcnet.usp.br/humaniza/pdf/livro/livro_dra_izabel_rios_caminhos_da_humanizacao_saude.pdf

Postado por Cleudivaina Moura

Humanização e ética

Humanizar o quê? Por acaso não somos humanos?” (Auxiliar de
Enfermagem de uma UBS da SMS-SP)
Há alguns anos, quando o assunto humanização chegou aos serviços de Saúde, a reação dos trabalhadores foi a mais variada possível. Algumas pessoas (que já trabalhavam com ações humanizadoras ) sentiram-se finalmente reconhecidas e encontraram seus pares, mas a maioria (que não fazia a mínima ideia do que se tratava) reagiu com desdém ou indignação: não eram humanos, afinal? Humanizar os serviços soava como um insulto. Entretanto, tão logo se começava a discutir a humanização como o processo de construção da ética relacional que recuperava valores humanísticos esmaecidos pelo cotidiano institucional ora aflito, ora desvitalizado, ficava clara a importância de trazer tal discussão para o campo da Saúde. A Medicina (e certamente todas as profissões que se destinam ao cuidar) é uma prática ético-dependente, ou seja, ainda que o mundo se acabe em um livre agredir, em que vença o mais forte, o mais rico, ou o mais bonito, na área da Saúde é imprescindível a educação para a ética nas relações entre as pessoas, sem a qual não é possível realizar a missão que nos destina essa escolha profissional.
Humanizar, então, não se refere a uma progressão na escala biológica ou antropológica, o que seria totalmente absurdo, mas ao reconhecimento da natureza humana em sua essência e a elaboração de acordos de cooperação, de diretrizes de conduta ética, de atitudes profissionais condizentes com valores humanos coletivamente pactuados.

No sentido filosófico, humanização é um termo que encontra suas raízes no Humanismo, corrente filosófica que reconhece o valor e a dignidade do Home – a medida de todas as coisas – considerando sua natureza, seus limites, interesses e potenciais. O Humanismo busca compreender o Homem e criar meios para que os indivíduos compreendam uns aos outros. 
Na leitura psicanalítica, o termo fala do lugar da subjetividade no campo da Saúde. Humanização, como tornar humano, significa admitir todas as dimensões humanas – históricas, sociais, artísticas, subjetivas, sagradas ou nefastas – e possibilitar escolhas conscientes e responsáveis.
A Psicanálise se encontra com o Humanismo quando coloca no centro do seu campo de investigação, compreensão e intervenção, o homem e sua natureza humana (que pode ser tão divina quanto demoníaca... No mais das vezes, as duas... Na melhor das hipóteses, a primeira cuidando para que a segunda se mantenha o mais quieta possível). A natureza humana comporta pulsões para a construção e para a agressão. Em nossa essência, temos potencial para agir tanto em um sentido quanto em outro. O julgamento ético de cada ato e a sua escolha são tarefa psíquica constante, que põe em jogo os valores que a cultura nos dá por referência e os desejos que se ocultam no íntimo de cada um. Reconhecer a importância dessas características humanas é o primeiro passo para a humanização.
O segundo passo é desenvolver métodos que permitam a inserção de tais aspectos humanos no pensar e agir sobre os processos saúde-adoecimento- cura e nas relações de trabalho. Trata-se de criar espaços legítimos
 de fala e escuta que devolvam à palavra sua potência reveladora e transformadora.
Na relação do profissional com o paciente, a escuta não é só um ato generoso e de boa vontade, mas um imprescindível recurso técnico para o diagnóstico e a adesão terapêutica. Na relação entre profissionais, esses espaços são a base para o exercício da gestão participativa e da transdisciplinaridade.
Na vertente moral, a humanização pode evocar valores humanitários como: respeito, solidariedade, compaixão, empatia, bondade, todos valores morais pensados como juízos sobre as ações humanas que as definem como boas ou más, representando uma determinada visão de mundo em um dado tempo e lugar e, portanto, mutáveis de acordo com as transformações da sociedade. A humanização propõe a construção coletiva de valores que resgatem a dignidade humana na área da Saúde e o exercício da ética, aqui pensada como um princípio organizador da ação. O agir ético, neste ponto de vista, se refere à reflexão crítica que cada um de nós, profissional da saúde, tem o dever de realizar, confrontando os princípios institucionais com os próprios valores, seu modo de ser e pensar e agir no sentido do Bem... Claro que seria um ato de violência se, em nome da humanização, determinássemos quais os valores pessoais que cada um deve ter. Entretanto, na dimensão institucional, tratam-se de valores fundamentais para balizar a atitude profissional de todos com diretrizes éticas que expressem o que, coletivamente, se considera bom e justo.
A ética, assim pensada, torna-se um importante instrumento contra a violência e a favor da humanização.

Postado por Ana Lucia S. de Freitas)

Rios, Izabel Cristina Caminhos da humanização na saúde : prática e
reflexão / Izabel Cristina Rios. -- São Paulo : Áurea Editora, 2009.


http://www.hcnet.usp.br/humaniza/pdf/livro/livro_dra_izabel_rios_caminhos_da_humanizacao_saude.pdf

Humanização do Atendimento em Saúde: o que é ser um profissional humanizado

Em razão do desenvolvimento tecnológico na medicina, em particular, alguns aspectos mais sublimes do paciente, tais como suas emoções, suas crenças e valores, ficaram em segundo ou terceiro planos. Apenas sua doença, objeto do saber cientificamente reconhecido, passou a monopolizar a atenção do ato médico, portanto, com esse enfoque eminentemente técnico a medicina se desumanizou.
Humanizar o atendimento não é apenas chamar a paciente pelo nome, nem ter um sorriso nos lábios constantemente mas, além disso, também compreender seus medos, angústias, incertezas dando-lhe apoio e atenção permanente.
Humanizar também é, além do atendimento fraterno e humano, procurar aperfeiçoar os conhecimentos continuadamente é valorizar, no sentido antropológico e emocional, todos elementos implicados no evento assistencial. Na realidade, a Humanização do atendimento, seja em saúde ou não, deve valorizar o respeito afetivo ao outro, deve prestigiar a melhoria na vida de relação entre pessoas em geral.
Entre os tópicos importantes na humanização do atendimento em saúde escolhemos alguns, poucos mas relevantes, para registrar aqui; o interesse e competência na profissão, o diálogo entre o profissional e o usuário e/ou seus familiares, o favorecimento de facilidades para que a vida da pessoa e/ou de seus familiares seja melhor, evitar aborrecimentos e constrangimentos e, por fim o respeito aos horários de atendimento.
É claro que o tema aqui abordado é Humanização do Atendimento em Saúde, entretanto, tomando-se por base esses cinco quesitos, quem não gostaria de vê-los humanizados em todas as dimensões da vida em sociedade e não apenas no atendimento em saúde. Não encontramos razões plausíveis para que o apelo de humanização seja exclusivo para área de saúde, já que essa área é tão carente em humanização quanto as demais.
De modo geral algumas atitudes são diretamente relacionadas ao que se pretende com a Humanização do atendimento:
1 . - Aprimorar o conhecimento científico continuadamente é uma conseqüência do interesse e competência. Entretanto, o conhecimento continuamente adquirido deve o mais global possível, objetivando sempre atender as necessidades gerais dos pacientes, ao invés de se limitar exclusivamente à questão física ou específica da especialidade.
Na oncologia, por exemplo, entre outras especialidades, a abordagem da dor e do conforto do paciente deve acontecer paralelamente à utilização dos mais recentes avanços terapêuticos. Deve-se atender também outros aspectos da qualidade de vida, como por exemplo, os efeitos colaterais do tratamento oncológico, a qualidade do sono do paciente, seu estado afetivo, sua sexualidade, apetite, estética, etc. Não se pretende, com isso, que o oncologista tenha todos esses conhecimentos, mas que seja sensível a ponto de facilitar para que o paciente conte com todos esses recursos.
2 . - Aliviar sempre que possível, controlar a dor e atender as queixas físicas e emocionais. A atenção emocional diz respeito à compreensão sensível das queixas do paciente, mesmo que estas não tenham base fisiopatológica ou anatômica. O que está em questão não são os limites dos livros de fisiopatologia, mas sim, a representação da realidade pelo paciente, suas vivências e seu estado existencial atual.
O alívio global do paciente nem sempre se proporciona exclusivamente com analgésicos ou outras intervenções técnicas. Para o conforto global é imprescindível o bem estar afetivo, o qual pode envolver a companhia constante de familiares, a atuação de terapeutas, uso de medicamentos antidepressivos e ansiolíticos e outros recursos psicoterápicos e ocupacionais necessários.
3. - Oferecer informações sobre a doença, prognóstico e tratamento. Os profissionais da saúde não devem economizar palavras ou qualquer outra forma de comunicação. O silêncio do profissional é uma das mais importantes queixas dos pacientes e familiares em relação ao mau atendimento.Diante de um profissional calado e silencioso o paciente pode fantasiar para pior o seu estado de saúde, agravando assim seu estado emocional e, conseqüentemente, orgânico. As dúvidas e a carência de informações são as principais causas de não aderência ao tratamento e de procedimentos incorretos por parte dos pacientes, familiares e/ou cuidadores. A falta de diálogo com o profissional da saúde pode ser iatrogênico.
Não raras vezes ouvimos de pacientes que o simples contacto com o médico (ou outro profissional da saúde) foi suficiente para que começasse a melhorar. Essa melhora deve-se ao diálogo, à empatia e à comunicação lenitiva do profissional da saúde.
4. - Respeitar o modo e a qualidade de vida do paciente. O tratamento médico deve, prioritariamente, ser uma atitude que visa melhorar a qualidade de vida do paciente, portanto, qualquer limitação ao seu estilo de vida imposta pelo tratamento deve ser evitada (desde que o estilo de vida em questão não seja o objeto do tratamento, como por exemplo, alcoolismo).
Alguns profissionais costumam ser insensíveis à esses valores, priorizando seus tratamentos em detrimento da qualidade de vida do paciente. Eles exigem que o paciente seja adequado ao tratamento e não ao contrário, o que seria desejável. O paciente não tem problemas que contra-indiquem o uso social de uma taça de vinho. Então, o médico deve procurar preferir os medicamentos que não comprometam esse agradável e sadio hábito.
Nunca me esqueço do hospital onde trabalhava, cujas enfermeiras acordavam os pacientes em sono profundo, às 23 horas, para tomarem o medicamento (sonífero) para dormir. Outro autoritarismo médico que costuma ignorar totalmente a qualidade de vida dos pacientes é o hábito de marcar exames que exigem jejum para os horários da tarde, submetendo o paciente a sofríveis horas de fome.
Essas atitudes podem sugerir, às vezes, que a comodidade do médico acaba resultando em grave desconforto ao paciente. Também é o caso, por exemplo, das noções de horário e de desconforto que parecem não existir em alguns colegas médicos. Pacientes são submetidos a esperas intermináveis pelo atendimento, em franco desrespeito aos seus direitos.
5. - Respeitar a privacidade (e dignidade) do paciente. Tem sido tênue os limites entre tudo o que o paciente deve se submeter para melhorar e facilitar o trabalho do médico ou profissional de saúde e aquilo que o profissional quer que o paciente faça apenas para seu conforto e comodidade.
Existem em determinados hospitais algumas roupas padronizadas para pacientes que aniquilam totalmente sua dignidade, deixando à mostra sua intimidade para pessoas que nem estão envolvidas na questão do diagnóstico e tratamento. Existem privações, proibições e restrições hospitalares que não resistem ao mínimo questionamento de um simples "porque não posso?".
Nunca esqueço de uma conhecida minha que, estando prestes a ser operada de varizes no tornozelo, foi submetida à tricotomia pubiana (raspagem dos pelos) porque havia uma "norma" dizendo: - para cirurgias de varizes, deve ser feita a tricotomia. Seria de se perguntar se para varizes do esôfago também deveriam ser raspados pelos pubianos. Ora, essa atitude corresponde a mandar raspar a cabeça de todos que forem submetidos à extração dentária.
Algumas atendentes de laboratório mandam o paciente voltar no dia seguinte porque não obedeceram ao jejum e, portanto, não podem retirar o sangue para o exame. E adotam esse procedimento para qualquer exame, mesmo que a alimentação não interfira neste determinado exame.
Muitas vezes percebemos que um pouco de disposição e boa vontade evitaria que o paciente perdesse a viagem, evitaria que ele voltasse mais uma vez para atendimento.
6. - Compreender a importância de se oferecer ao paciente um suporte emocional adequado. É alta a porcentagem de pessoas que pioram o quadro e as queixas depois de conversarem com profissionais da saúde, quando a conversa é destituída da sensibilidade necessária ao bem estar emocional e afetivo do paciente. Essa frigidez emocional, comum em ambientes que deveriam confortar, pode resultar em agravamento dos sintomas, desenvolvimento de depressão e ansiedade que comprometem enormemente a recuperação.
Ficar lembrando que tal procedimento costuma ser muito doloroso, que tudo depende da biópsia, que isso não costuma ter cura, que as seqüelas são terríveis, e coisas do gênero não contribuem em nada, muito pelo contrário. Não é necessário mentir para que o paciente se sinta bem, mas escolher as palavras para transmitir a verdade é uma questão de vocação, sensibilidade e bom senso. O segredo para um bom diálogo, é imaginar como você gostaria que um profissional em seu lugar dissesse para a senhora sua mãe.
Para o suporte emocional é importante favorecer algumas preferências do paciente que não comprometem em nada o andamento do tratamento, como por exemplo, em relação aos acompanhantes, às visitas e outros hábitos costumeiros. Isso tudo, ou seja, a introdução de recursos mais próximos do cotidiano das pessoas, tais como músicas, vídeos, filmes, apresentações, atividades artísticas, lazer, etc, suaviza a característica fria da atenção à saúde e melhora o estado emocional. São mundialmente reconhecidos os benefícios dos "hospitalhaços" e afins na convalescença dos pacientes internados.
7. - A instituição deve oferecer condições de trabalho adequadas ao profissional de saúde. O grau de ansiedade, frustração e descontentamento do profissional (em qualquer área) tende a repercutir em seu trabalho. Há instituições de atendimento à saúde já consideradas humanizadas, porém, algumas vezes essa humanização diz respeito exclusivamente à melhorias da estrutura física dos prédios. Evidentemente que a estrutura física dos imóveis é bastante relevante, mas a humanização da instituição vai além disso.
Quando a instituição não oferece condições satisfatórias para seus profissionais, há um risco bastante aumentado do atendimento não se processar satisfatoriamente. Também todo o sistema está envolvido. O sistema deve atender a instituição em suas necessidades básicas administrativas, físicas e humanas.
Perspectivas Institucionais de Humanização do Atendimento em Saúde
Em 1995 houve uma publicação da revista Veja, matéria de capa, intitulada: UTI, o corredor da vida e da morte. A matéria chocou os profissionais da saúde, pois trazia depoimentos de pessoas que preferiam morrer a terem que se submeter a alguma terapia intensiva, como foi o caso do intelectual Darci Ribeiro.
Alguns projetos de humanização vêm sendo desenvolvidos há alguns anos, em áreas específicas da assistência, por exemplo, na saúde da mulher, da criança, entre outros. Atualmente têm sido propostas diversas ações visando à implantação de programas de humanização nas instituições de saúde, especialmente nos hospitais, tal como o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH) do Ministério da Saúde em 2000, com o objetivo de promover uma mudança de cultura no atendimento de saúde no Brasil (veja abaixo).
São vários os projetos e ações que desenvolvem atividades humanizadoras ligadas a artes plásticas, música, teatro, lazer, recreação, incluindo iniciativas do Ministério da Saúde no sentido de valorizar atitudes humanizadas.
Para que o trabalho de um profissional seja eficiente e ao mesmo tempo humanizado, em qualquer área e não apenas médica, são necessários conhecimento, qualidade técnica e, indubitavelmente, uma boa qualidade de inter-relação humana. Em medicina, a qualidade exige o desenvolvimento de conhecimentos e de capacidade técnica mas, para a qualidade de inter-relação humana o médico precisa reconhecer e lidar com os aspectos emocionais do paciente, isto é, precisa desenvolver atitudes eficientes e humanas em sua tarefa assistencial.
As atuais condições do exercício da medicina não têm contribuído para a melhoria do relacionamento entre médicos e pacientes, nem para o atendimento humanizado e de boa qualidade. E esse quadro atual se estende também a outros profissionais da área de saúde.
As dificuldades de humanização começam pelo lado do paciente. É fundamental considerar, para a humanização do atendimento, se o paciente está inserido em um contexto pessoal, familiar e social satisfatório. Esse contexto é indispensável até para a adesão ato tratamento, para a procura do serviço de saúde, para acompanhamento do tratamento.
Em segundo, a assistência à saúde deve priorizar as necessidades pessoais e sociais do paciente. Há um bom número de médicos que diagnosticam muito bem e prescrevem tratamentos primorosos, entretanto, não têm a mínima noção (e pior, a mínima preocupação) em saber se o paciente pode adquirir os medicamentos. Como costumam dizer, esse problema não é deles.
Ainda tem a questão primordial da instituição. Na instituição interatuam as necessidades de quem assiste e de quem é assistido e a satisfação de quem é atendido, infelizmente, depende, antes, da satisfação de quem atende.

REFERÊNCIA

Ballone GJ - Humanização do Atendimento em Saúde, in. PsiqWeb, Internet, disponível em <http://www.virtualpsy.org/temas/humaniza.html>, 2004.
POSTADOR: MONIQUE DUARTE

Sábio é o ser humano que tem coragem de ir diante do espelho da sua alma para reconhecer seus erros e fracassos e utilizá-los para plantar as mais belas sementes no terreno de sua inteligência.

Humanização na Saúde

Em razão do acelerado processo de desenvolvimento tecnológico em medicina, a singularidade do paciente — emoções, crenças e valores — ficou em segundo plano; sua doença passou a ser objeto do saber reconhecido cientificamente. O ato médico, portanto, se desumanizou. No mesmo processo, ocorreram transformações na formação médica, cada vez mais especializada, e nas condições de trabalho, restringindo a disponibilidade do médico tanto para o contato com o paciente quanto para a busca de formação mais abrangente. As atuais condições do exercício da medicina não têm contribuído para a melhoria do relacionamento entre médicos e pacientes e para o atendimento humanizado e de boa qualidade. Esse quadro estende-se tanto a outros profissionais da área como a instituições de saúde.
Alguns projetos de humanização vêm sendo desenvolvidos, há muitos anos, em áreas específicas da assistência, por exemplo, na saúde da mulher (humanização do parto) e na saúde da criança (Projeto Canguru, para recém-nascidos de baixo pe­so). Atualmente têm sido propostas diversas ações visando à implantação de programas de humanização nas instituições de saúde, especialmente nos hospitais. Principalmente na assistência pediátrica, vários pro­jetos e ações desenvolvem atividades ligadas a artes plásticas, música, teatro, lazer, recreação.

Merece reflexão a atual tendência e as ações humanizadoras no tecido institucional em que as ações de saúde e as próprias ações humanizadoras se veiculam. A teia interacional, ou seja, o conjunto das relações que se estabelecem nas instituições — profissional-paciente, recepção-paciente, profissional-equipe, profissional-instituição e outras — está se humanizando?

Há instituições que se dizem já humanizadas, mas, em alguns desses casos, humanização equivale a melhorias na estrutura física dos prédios. Sem dúvida, são medidas relevantes numa instituição. No entanto, podem ser fatores meramente pontuais se não estiverem inseridos em um processo amplo de humanização das relações institucionais.

Para uma avaliação da complexidade da tarefa assistencial, em especial a realizada em instituições, deve-se levar em conta que:
- o paciente está inserido em um contexto pessoal, familiar e social complexo;
- a assistência deve efetuar uma leitura das necessidades pessoais e sociais do paciente;
- na instituição, interatuam as necessidades de quem assiste e de quem é assistido.

As reflexões sobre a tarefa assistencial conduzem também ao campo ético. A questão ética surge quando alguém se preocupa com as conseqüências que sua conduta tem sobre o outro. Para que haja ética, é preciso ver (perceber) o outro. E, se para a assistência humanizada também é preciso perceber o outro, conclui-se que assistência humanizada e ética caminham juntas.
O trabalho de um profissional, qualquer que seja sua atividade, depende tanto da qualidade técnica como da qualidade interacional. Em medicina, a preocupação com a qualidade faz com que, em cada especialidade, se busque desenvolver a capacidade técnica, que faz parte do que chamamos de conhecimentos e habilidades relativos à área técnica; para a capacitação interacional do médico, de qualquer especialidade, torna-se necessária a instrumentalização para reconhecer e lidar com os aspectos emocionais da tarefa assistencial, isto é, o desenvolvimento de atitudes.

Há considerável alívio e melhoria das condições do trabalho assistencial quando o médico pode conhecer, por um lado, os motivos do comportamento do paciente e, por outro, tanto os efeitos que esse comportamento lhe provoca — angústia, raiva, impotência — quanto as defesas que desencadeia, por exemplo, comportamentos evitativos, consultas rápidas. Muitos problemas dos usuários podem ser resolvidos ou atenuados quando se sentem compreendidos e respeitados pelos médicos; a falta de acolhimento e de continência a seus aspectos emocionais pode conduzir ao abandono ou à rejeição ao tratamento. Nesses casos, poderão buscar caminhos sociais alternativos, que ofereçam maior receptividade e compreensão. Diversos estudos mostram que a relação médico-paciente é considerada relevante no processo de adesão ao tratamento.

É claro que a não adesão envolve, além da relação do paciente com o profissional, fatores relacionados aos pacientes (idade, sexo, estado civil, etnia, contexto familiar, escolaridade, auto-estima, crenças, hábitos de vida), às doenças (cronicidade, ausência de sintomas), aos tratamentos (custo, efeitos indesejáveis, esquemas complexos), à instituição (política de saúde, acesso ao serviço de saúde, tempo de espera, tempo de atendimento).

Assim, é fundamental que o médico incorpore o aprendizado e o aprimoramento dos aspectos interpessoais da tarefa assistencial, conhecendo os fenômenos psicológicos que nela atuam. Isso não significa que tenha que se transformar em psiquiatra, psicólogo ou psicoterapeuta, mas que, além do suporte técnico-diagnóstico, utilize e desenvolva a sensibilidade para conhecer a realidade do paciente, ouvir suas queixas e encontrar, junto com ele, estratégias que facilitem a aceitação, compreensão da doença e a adaptação a modificações que, porventura, tenha que fazer por conta de seu problema.Daí a importância da revisão da formação dos médicos, com reestruturação dos currículos das faculdades e programas de capacitação permanente (educação continuada) que abordem tanto aspectos técnicos quanto interacionais.
Uma das contribuições mais significativas para o entendimento do contexto interpessoal, interacional, relacional é o estudo quase microscópico da intimidade da relação médico-paciente. As angústias ligadas ao adoecer são parte integrante dessa relação, que é o campo dinâmico que se estabelece entre ambos. Nesse campo, surgem as angústias básicas profundas e intensas que se desenvolvem no vínculo humano que se estabelece entre o médico e o paciente.
O contato direto com seres humanos coloca o profissional diante de sua própria vida, saúde ou doença, dos próprios conflitos e frustrações. Se ele não tomar contato com esses fenômenos, correrá o risco de desenvolver mecanismos rígidos de defesa, que podem prejudicá-lo tanto no âmbito profissional quanto no pessoal. O médico e os outros profissionais da saúde submetem-se, em sua atividade, a tensões provenientes de várias fontes: contato freqüente com a dor e o sofrimento, com pacientes terminais, receio de cometer erros, contato com pacientes difíceis. Assim, cuidar de quem cuida é condição sine qua non para o desenvolvimento de projetos e ações em prol da humanização da assistência.

Contratação de profissionais suficientes para atender à demanda da população; aquisição de novos equipamentos médico-hospitalares; abertura de novos serviços, melhoria dos salários, das condições de trabalho e da imagem do serviço público de saúde junto à população são outros objetivos a serem buscados para a melhoria da assistência.
 Em razão do acelerado processo de desenvolvimento tecnológico em medicina, a singularidade do paciente — emoções, crenças e valores — ficou em segundo plano; sua doença passou a ser objeto do saber reconhecido cientificamente. O ato médico, portanto, se desumanizou. No mesmo processo, ocorreram transformações na formação médica, cada vez mais especializada, e nas condições de trabalho, restringindo a disponibilidade do médico tanto para o contato com o paciente quanto para a busca de formação mais abrangente. As atuais condições do exercício da medicina não têm contribuído para a melhoria do relacionamento entre médicos e pacientes e para o atendimento humanizado e de boa qualidade. Esse quadro estende-se tanto a outros profissionais da área como a instituições de saúde.
Alguns projetos de humanização vêm sendo desenvolvidos, há muitos anos, em áreas específicas da assistência, por exemplo, na saúde da mulher (humanização do parto) e na saúde da criança (Projeto Canguru, para recém-nascidos de baixo pe­so). Atualmente têm sido propostas diversas ações visando à implantação de programas de humanização nas instituições de saúde, especialmente nos hospitais. Principalmente na assistência pediátrica, vários pro­jetos e ações desenvolvem atividades ligadas a artes plásticas, música, teatro, lazer, recreação.

Merece reflexão a atual tendência e as ações humanizadoras no tecido institucional em que as ações de saúde e as próprias ações humanizadoras se veiculam. A teia interacional, ou seja, o conjunto das relações que se estabelecem nas instituições — profissional-paciente, recepção-paciente, profissional-equipe, profissional-instituição e outras — está se humanizando?

Há instituições que se dizem já humanizadas, mas, em alguns desses casos, humanização equivale a melhorias na estrutura física dos prédios. Sem dúvida, são medidas relevantes numa instituição. No entanto, podem ser fatores meramente pontuais se não estiverem inseridos em um processo amplo de humanização das relações institucionais.

Para uma avaliação da complexidade da tarefa assistencial, em especial a realizada em instituições, deve-se levar em conta que:
- o paciente está inserido em um contexto pessoal, familiar e social complexo;
- a assistência deve efetuar uma leitura das necessidades pessoais e sociais do paciente;
- na instituição, interatuam as necessidades de quem assiste e de quem é assistido.

As reflexões sobre a tarefa assistencial conduzem também ao campo ético. A questão ética surge quando alguém se preocupa com as conseqüências que sua conduta tem sobre o outro. Para que haja ética, é preciso ver (perceber) o outro. E, se para a assistência humanizada também é preciso perceber o outro, conclui-se que assistência humanizada e ética caminham juntas.
O trabalho de um profissional, qualquer que seja sua atividade, depende tanto da qualidade técnica como da qualidade interacional. Em medicina, a preocupação com a qualidade faz com que, em cada especialidade, se busque desenvolver a capacidade técnica, que faz parte do que chamamos de conhecimentos e habilidades relativos à área técnica; para a capacitação interacional do médico, de qualquer especialidade, torna-se necessária a instrumentalização para reconhecer e lidar com os aspectos emocionais da tarefa assistencial, isto é, o desenvolvimento de atitudes.

Há considerável alívio e melhoria das condições do trabalho assistencial quando o médico pode conhecer, por um lado, os motivos do comportamento do paciente e, por outro, tanto os efeitos que esse comportamento lhe provoca — angústia, raiva, impotência — quanto as defesas que desencadeia, por exemplo, comportamentos evitativos, consultas rápidas. Muitos problemas dos usuários podem ser resolvidos ou atenuados quando se sentem compreendidos e respeitados pelos médicos; a falta de acolhimento e de continência a seus aspectos emocionais pode conduzir ao abandono ou à rejeição ao tratamento. Nesses casos, poderão buscar caminhos sociais alternativos, que ofereçam maior receptividade e compreensão. Diversos estudos mostram que a relação médico-paciente é considerada relevante no processo de adesão ao tratamento.

É claro que a não adesão envolve, além da relação do paciente com o profissional, fatores relacionados aos pacientes (idade, sexo, estado civil, etnia, contexto familiar, escolaridade, auto-estima, crenças, hábitos de vida), às doenças (cronicidade, ausência de sintomas), aos tratamentos (custo, efeitos indesejáveis, esquemas complexos), à instituição (política de saúde, acesso ao serviço de saúde, tempo de espera, tempo de atendimento).

Assim, é fundamental que o médico incorpore o aprendizado e o aprimoramento dos aspectos interpessoais da tarefa assistencial, conhecendo os fenômenos psicológicos que nela atuam. Isso não significa que tenha que se transformar em psiquiatra, psicólogo ou psicoterapeuta, mas que, além do suporte técnico-diagnóstico, utilize e desenvolva a sensibilidade para conhecer a realidade do paciente, ouvir suas queixas e encontrar, junto com ele, estratégias que facilitem a aceitação, compreensão da doença e a adaptação a modificações que, porventura, tenha que fazer por conta de seu problema.Daí a importância da revisão da formação dos médicos, com reestruturação dos currículos das faculdades e programas de capacitação permanente (educação continuada) que abordem tanto aspectos técnicos quanto interacionais.
Uma das contribuições mais significativas para o entendimento do contexto interpessoal, interacional, relacional é o estudo quase microscópico da intimidade da relação médico-paciente. As angústias ligadas ao adoecer são parte integrante dessa relação, que é o campo dinâmico que se estabelece entre ambos. Nesse campo, surgem as angústias básicas profundas e intensas que se desenvolvem no vínculo humano que se estabelece entre o médico e o paciente.
O contato direto com seres humanos coloca o profissional diante de sua própria vida, saúde ou doença, dos próprios conflitos e frustrações. Se ele não tomar contato com esses fenômenos, correrá o risco de desenvolver mecanismos rígidos de defesa, que podem prejudicá-lo tanto no âmbito profissional quanto no pessoal. O médico e os outros profissionais da saúde submetem-se, em sua atividade, a tensões provenientes de várias fontes: contato freqüente com a dor e o sofrimento, com pacientes terminais, receio de cometer erros, contato com pacientes difíceis. Assim, cuidar de quem cuida é condição sine qua non para o desenvolvimento de projetos e ações em prol da humanização da assistência.

Contratação de profissionais suficientes para atender à demanda da população; aquisição de novos equipamentos médico-hospitalares; abertura de novos serviços, melhoria dos salários, das condições de trabalho e da imagem do serviço público de saúde junto à população são outros objetivos a serem buscados para a melhoria da assistência.

A humanização é um processo amplo, demorado e complexo, ao qual se oferecem resistências, pois envolve mudanças de comportamento, que sempre despertam insegurança. Os padrões conhecidos parecem mais seguros; além disso, os novos não estão prontos nem em decretos nem em livros, não tendo características generalizáveis, pois cada profissional, cada equipe, cada instituição terá seu processo singular de humanização. E se não for singular, não será de humanização.

No processo devem estar envolvidas várias instâncias: profissionais de todos os setores, direção e gestores da instituição, além de formuladores de políticas públicas, conselhos profissionais e entidades formadoras.

A humanização é um processo amplo, demorado e complexo, ao qual se oferecem resistências, pois envolve mudanças de comportamento, que sempre despertam insegurança. Os padrões conhecidos parecem mais seguros; além disso, os novos não estão prontos nem em decretos nem em livros, não tendo características generalizáveis, pois cada profissional, cada equipe, cada instituição terá seu processo singular de humanização. E se não for singular, não será de humanização.

No processo devem estar envolvidas várias instâncias: profissionais de todos os setores, direção e gestores da instituição, além de formuladores de políticas públicas, conselhos profissionais e entidades formadoras. 

REFERÊNCIA


Maria Cezira Fantini Nogueira Martins é psicóloga (USP), doutora em Distúrbios da Comunicação Humana (Unifesp), pesquisadora do Instituto de Saúde (SES-SP), autora do livro “Humanização das relações.Revista Ser Médico

quarta-feira, 8 de junho de 2011

CONGRESSO DE HUMANIZAÇÃO NA BAHIA

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O Congresso

O Que é

O Congresso de Humanização da Saúde em Ação é o evento que, desde 2001, reúne agentes de transformação para a discussão, aprimoramento e disseminação da humanização. Foi iniciado no Brasil com atuação de ONG's e de profissionais de saúde, promovendo atividades com foco no bem-estar dos pacientes.

Objetivo geral:

Possibilitar uma reflexão aprofundada sobre o conceito de humanização e suas interfaces frente à transformação dos modelos assistenciais e de gestão.

Público-alvo:

Dirigentes, profissionais e estudantes da área de saúde, associações, ONGs, escolas e universidades, empresas, conselhos regionais e centros acadêmicos.



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O 6º Congresso de Humanização da Saúde em Ação, realizado nos dias 9, 10 e 11 de julho, reforçou a importância da Humanização no cenário da saúde brasileira. Através das conferências, debates, mesas redondas, oficinas e trabalhos apresentados foi possível refletir sobre o conceito de humanização e suas interfaces frente à transformação... saiba mais. Veja o comercial ao lado que foi produzido para o 6º Congresso em 2009!



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O que somos

A Associação Viva e Deixe Viver é Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) que reúne voluntários contadores de história para crianças e adolescentes em tratamento hospitalar.

FÓRUNS DE HUMANIZAÇÃO DA SAÚDE EM AÇÃO

Os Fóruns reforçaram a importância da Humanização no cenário da saúde brasileira. Realizados em onze cidades de todo o Brasil, contaram com mais de 2800 pessoas colaborando para a formação do conteúdo do Congresso de Humanização da Saúde em Ação, que será realizado em 2011 através de palestras, oficinas e diálogos apreciativos.


7° Congresso Brasileiro de Humanização da Saúde em Ação - 19,20 e 21 de setembro de 2011 - Salvador/BA - Brasil

quinta-feira, 2 de junho de 2011

A Humanização da Saúde e do Cuidado

Nursing - A senhora acredita que os enfermeiros precisam ter sensibilidade para o cuidado ao desenvolver o seu "fazer"?

Profª Drª Annecy - Vejo a prática do cuidado em enfermagem como exercício da sensibilidade no trato com o ser humano, onde é preciso perceber-se e perceber o outro com seus valores e direitos, entendendo-se como alguém importante na construção de um mundo mais solidário e fraterno. Se as profissões na área de Saúde permitem operações de multiplicar, por que optarmos por dividir ou subtrair conhecimento, sensibilidade, percepção, respeito, e dignidade, enfim, oferecer uma assistência de baixa qualidade aos nossos clientes? Entretanto, mesmo que a passos mais lentos do que esperado, não podemos ignorar o exercício de uma enfermagem que se vem renovando na medida em que propõe modificar a maneira de ver e desenvolver cuidados personalizados entendendo o cliente como um ser integral.

Nursing - Como a senhora tem visto a atuação do enfermeiro no cuidado com o ser humano, considerando o holístico?

Profª Drª Annecy - Têm ocorrido progressos nesse sentido, mas distribuídos de forma muito desigual pelas singulares regiões existentes num mesmo Brasil. E, embora o discurso holístico em favor do cuidado integral tenha estado cada vez mais presente em instituições de Saúde e de Ensino, nem sempre é aplicado no dia-a-dia com o mesmo entusiasmo. Entre outros entraves, o enfermeiro ao lidar com o indivíduo, a família e comunidade, precisa refletir mais sobre sua vida pessoal e profissional, incluídos todos os juízos e valores. Quero lembrar que, nos tempos atuais enquanto o processo de enfermagem é regido pelo paradigma positivista, seguindo o modelo biomédico, o processo de cuidar segue o paradigma humanista, ecológico ou holista. Portanto, envolve valores, princípios, idéias e atitudes bastante contraditórias, o que tende a reduzir o cliente a 'algo' ou 'objeto' medicamente manipulável por meio de normas terapêuticas. No entanto, a enfermagem moderna tem caminhado para a construção de uma nova forma de pensar e agir, de perceber o individual e o coletivo e o cuidado prestado com qualidade intelectual e humanitária, tem possibilitado que ela faça a diferença em seus diversos campos de atuação, ganhando destaque e poder de decisão. A verdade é que, sem uma boa enfermagem não se faz Saúde em lugar algum.

Nursing - Qual a sua percepção em relação ao cuidado interdisciplinar prestado ao cliente e família nos dias atuais?

Profª Drª Annecy - O processo de humanização num mundo globalizado, e ainda muito materialista, é uma empreitada que requer o comprometimento de diversos atores, ou seja, é multiprofissional e interdisciplinar, e cuja aridez é real, mas não desisto de crer em novos tempos e no uso direcionado das múltiplas inteligências do ser humano, no burilar de seus sentimentos e prestação de cuidados com excelente qualidade para todos, indistintamente. Apesar do panorama atual não ser dos melhores, já é possível falar em ações cuidadoras que dignificam o ser humano no viver e no morrer, ao levar-se em
conta também os avanços nas Ciências da Saúde. Entretanto, ainda há grande necessidade de se trabalhar em equipe, de conscientização e comprometimento de muitos profissionais e gestores que atuam na Saúde. Um trabalho sério e intenso nos meios escolares onde as relações interpessoais e temáticas afins podem ser trabalhadas, será de grande valia para a formação de profissionais mais habilitados na arte de lidar com as pessoas e de tratá-las como gente.


Nursing - Qual a contribuição do seu livro para os profissionais de saúde?

Profª Drª Annecy - Deixar bem claro que humanização na Saúde é, em suma, valorizar mais a pessoa que necessita de cuidados (nas dimensões emocional, sentimental, racional, intuitiva, criativa e espiritual) e menos a doença. Também, que é preciso ter em mente que nem sempre o que nos estimula a viver bem e a gozar de saúde física e mental se encontra em receitas de medicamentos de última geração, dietas alimentares rigorosas, cirurgias com aparelhos que custam milhões, determinações médicas que ditam regras a serem seguidas pelo doente ou exames sofisticados que checam com enorme precisão a anatomia dos órgãos e todo o metabolismo. Através desse livro, procuro chamar a atenção dos profissionais da Saúde e gestores para: a importância de se construir e trocar saberes; para o exercício do diálogo entre os diversos agentes de Saúde e deles com a clientela; para o trabalho executado em equipe, e para a percepção das necessidades, desejos e expectativas dos diferentes atores envolvidos na construção dessa forma de se fazer Saúde. A comunicação então, é apontada como um fator imprescindível para o estabelecimento da Humanização da Saúde e do Cuidado, assim como boas condições técnicas e materiais, e, o quão é importante o envolvimento de profissionais, gestores, formuladores de políticas públicas, população usuária dos serviços, conselhos profissionais e instituições formadoras de opinião no processo de recuperação da dignidade humana no Setor da Saúde. Todos têm responsabilidades e contribuições a dar para que a cultura da humanização cresça e se enraíze no seio da sociedade de forma muito positiva nas práticas diárias de promoção, prevenção e recuperação da saúde humana independente de condições sociais, econômicas e culturais. Por outro lado, chamo a atenção do leitor para o fato de que quem cuida carece igualmente de cuidados. Nesse sentido, cuidar de quem cuida é imprescindível ao desenvolvimento de projetos e ações em prol da humanização da assistência.


Nursing - O que a senhora espera que mude na realidade do cuidado do enfermeiro com o cliente, família e comunidade?

Profª Drª Annecy - Que não apenas o enfermeiro, mas todos os profissionais da Saúde reflitam mais sobre o valor que atribuem à vida, ao ser humano fragilizado pela enfermidade e impotente diante aos acontecimentos que lhe fogem ao controle e abatem seu ânimo. Na Saúde, a enfermagem ainda vivencia extremos que contrariam o necessário equilíbrio de pensamentos e ações do cuidador. Espero que o profissional enfermeiro e sua equipe, não apenas estude e trabalhe para compreender cada vez melhor a subjetividade humana como também, operacionalize de forma inteligente os instrumentos disponíveis na atualidade. Porém, que o faça com sabedoria, sem discriminação ou preconceito, com ética e dignidade, pautando-se em conhecimentos científicos e técnicas adequadas a cada situação.


Nursing - O que tem contribuído para atitudes desumanas em saúde?

Profª Drª Annecy - Alguns fatores, dentre eles: o avançado desenvolvimento tecnológico
da medicina; a singularidade do cliente deixado em segundo plano (sua espiritualidade, crenças, emoções e valores); a doença como objeto do saber científico; uma formação médica e de enfermagem cada vez mais especializada e condições de trabalho que acabam por restringir o contato com o cliente. Além, nos tempos atuais, a prática da solidariedade ou inexiste ou se mostra bastante acanhada entre muitos, e também vários profissionais de Saúde têm-se embrutecido, o que lhes dificulta admitir e trabalhar própria sensibilidade no cotidiano do exercício profissional, limitando sua percepção em relação ao outro, uma vez desestabilizados emocionalmente. Cabe também citar aqui que a estrutura do Sistema Público de Saúde no Brasil, por exemplo, tem viabilizado a massificação do atendimento médico e de enfermagem.


Nursing - Como surgiu a idéia de escrever o livro "Humanização da Saúde e do Cuidado"?

Profª Drª Annecy - Foi em 2006, quando de minha participação como autora na 19ª Bienal Internacional do Livro em São Paulo. Decidi escrever esse livro, o qual trata de um assunto que sempre me inquietou, e ao visitar todos os estandes em exposição nesse evento cultural, à procura de títulos sobre o assunto, constatei tratar-se de um campo ainda pouco explorado e publicado em livros, principalmente por autores enfermeiros. Tenho uma personalidade crítica e questionadora, sou inteiramente a favor de uma assistência humanitária na Saúde e de uma enfermagem que se vem renovando na medida em que ropõe modificar a maneira de ver e desenvolver cuidados personalizados entendendo o cliente como um ser integral. Nesse "campo de batalha" chamado Saúde - assim tem se apresentado à sociedade -, se por um lado há quem ignore a necessidade de resgatar valores imprescindíveis ao bem viver, por outro há quem trabalhe com afinco no papel de cuidador movido pela certeza de estar contribuindo para o resgate da compaixão, da espiritualidade, da integralidade do ser humano, do respeito aos seus valores, crenças e opiniões. É o que prego e pratico no exercício profissional da enfermagem, especialmente no Ensino, por acreditar em tempos com mais respeito e solidariedade através de pessoas melhores.
Talvez esse, seja no dia-a-dia nosso maior desafio! A humanização então, não mais será fruto de homéricos esforços ou soará como algo utópico, mas uma ocorrência natural nas relações humanas no campo da Saúde e quiçá relatadas em muitos livros com riqueza de detalhes para assim, incentivar o desenvolvimento de um mundo menos preocupado com a materialidade e a doença.
annecyg@uol.com.br

Profa. Dra. Annecy Tojeiro Giordani

Enfermeira Obstétrica. Autora dos livros: "Violências Contra a
Mulher" e 'Humanização da Saúde e o Cuidado".



http://www.nursing.com.br/article.php?a=61